A dispepsia funcional é definida pela presença de um conjunto de sintomas gástricos, localizados na região central e superior do abdome e a ausência de doenças orgânicas, metabólicas ou sistêmicas que justifiquem as queixas.
O termo dispepsia tem origem do grego (dys, prefixo indicativo de dificuldade, imperfeição, desordem e peptein, cozinhar, digerir) e corresponde popularmente em “ má-digestão, digestão lenta e difícil, empachamento, empanzinamento, indigestão ou estômago cheio”. Outras vezes referem como “problema no fígado, da vesícula ou queimar no estômago”.
Segundo alguns estudos, a doença representa de 20 a 40% de todas as consultas de gastroenterologia.
Os sintomas dispépticos podem surgir em qualquer idade, porém são mais comuns em jovens e mais prevalentes no sexo feminino.
A doença não tem causa conhecida e os mecanismos que causam os sintomas ainda não estão totalmente esclarecidos.
Apesar de a dispepsia funcional apresentar evolução benigna, os sintomas podem afetar de forma significativa a qualidade de vida das pessoas, refletindo em suas relações pessoais, sociais e laborais, ocasionando alterações psicológicas, do sono e da atividade sexual.
Existem alguns critérios diagnósticos que servem para definir melhor a doença, como;
1- O paciente deverá apresentar queixas dispépticas durante os últimos 3 meses e que se iniciaram no mínimo seis meses antes.
2- É fundamental a presença de um ou mais dos seguintes sintomas (empachamento pós-prandial, saciedade precoce, dor epigástrica e/ou queimação epigástrica).
3- Ausência de lesões estruturais que possam justificar os sintomas.
Os pacientes podem ser classificados de acordo com os sintomas mais freqüentes;
• Síndrome do desconforto pós-prandial ( sintomas desencadeados pelas refeições) - distensão do abdome
- náuseas pós-prandial ou eructação
• Síndrome da dor epigástrica (sintomas de dor ou queimação epigástrica)
A avaliação clínica bem conduzida possibilita o diagnóstico e a definição do tipo de dispepsia. É essencial realizar história clínica completa e exame físico minucioso, pois uma boa investigação servirá como guia ao médico para inclusão ou exclusão do diagnóstico, definição dos pacientes que deverão realizar exames complementares e a escolha do medicamento mais adequado a ser prescrito.
Atenção especial deve ser dada para os fatores emocionais e alimentares que possam interferir nos sintomas. Distúrbios psiquiátricos, especialmente ansiedade e depressão, são comuns em pacientes com dispepsia funcional.
A endoscopia digestiva é recomendada para pacientes que apresentam sintomas persistentes, mesmo com o uso de medicamentos, ou que apresentam sinais de alarme (icterícia, anemia, perda de sangue nas fezes, perda de peso, exame físico alterado) ou aqueles com idade acima de 45 anos. Em nosso meio devemos solicitar exame parasitológico de fezes com o objetivo de excluir a presença de parasitoses intestinais. A ultrassonografia não é indicada como exame de rotina, devendo ser solicitada quando houver suspeita de doença pancreática ou de vesícula biliar.
A melhor maneira de tratar a dispepsia funcional é tentando identificar fatores desencadeantes ou agravantes dos sintomas de cada paciente. A boa relação médico-paciente é fundamental. Ao iniciar o tratamento, devemos levar em conta as medidas gerais, a orientação dietética e o tratamento medicamentoso.
Os pacientes devem ser orientados com clareza sobre o caráter benigno da doença, deve ser recomendado que o paciente alimente-se devagar, em ambiente tranquilo, evitando a pressa. É importante evitar refeições copiosas, manter horários regulares, a inclusão ou exclusão de determinados alimentos e pesquisa de intolerâncias individuais. Evitar alimentos gordurosos e frituras.
Em relação à terapêutica medicamentosa existem inúmeras possibilidades, porém, procura-se indicar a terapêutica de acordo com a queixa do paciente.